quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Impressões de uma reunião

por Paulo Oliveira em 27 de agosto de 2011


Ali, naquele momento que não voltará, como diz Val do meio para o fim, falamos do que foi a Feira Viva da Música em nossos corpos, como sentimos essa vivência, de que forma ela aconteceu em nós enquanto indivíduo e coletivo. O que aqui está escrito é uma tentativa de apreender sobre aquele momento de reflexão, discutir nossas posturas, conceituá-las. Afinal, levantar estas questões sobre a vivência do grupo é construir um saber filosófico.

Ana mostrou não ter sido eficaz como processo de aprendizado a sua participação na Feira. Introduz falando do evento como um todo bacana, mas desfalcado neste ponto da comunicação. Atribui em parte, a falha aos textos produzidos por ela, eu e Félix que não subiram para o site por isenção de quem os colocasse. Isto desmotivou. Val, então, falou da falta do Felipe Gurgel na equipe como um canal de contribuições.
De fato foi uma pena que este processo não tenha tido a viva troca como aconteceu na fotografia, atividade compartilhada por Nilson e Camila. Eles lembraram da atenção de seu instrutor e da parceria com os profissionais contratados para o evento. Ivan, ao escutar o depoimento dos dois, fez a seguinte analogia: “é como ter a proteção de uma frente de batalha e poder atirar como tal, ter mesmo poder de fogo”. Ele referenciou ainda, que as melhores escolas são as que têm menos alunos para cada professor, porque possibilita que esse profissional esteja mais presente. Exato, Ivan. A presença é fundamental para que o saber de experiência do educando seja valorizado e este seja singular, único, como de fato é. Aos montes em sala os alunos são apenas alunos. Aqui, sou o Paulo e Camila é Camila Catunda: nome com significados intransferíveis.

Durante a Feira, a secretaria não contou com Lili por causa de uma catapora. Esta significativa falta acabou sendo importante para o aprendizado de Carol Sorbello e Kamila Brito, que tiveram com isso um acréscimo em suas demandas. Carol fala dessa experiência como uma dificuldade importante “foi contra tudo que tive na minha vida inteira: falta de organização, falta de concentração”. Kamilia também se diz desorganizada e viu nesse processo um espaço bacana para reverter isso. “Estava perdida em alguns momentos, mas a compreensão dos coordenadores auxiliaram significativamente em momentos tensos”. Essa realmente, foi “uma mudança de etapa” para as meninas.

Na área da Comunicação, Angélica Maia lembrou da importância das trocas feitas com Gabriel (Intercâmbio dos Saberes ou “Intercâmbio dos prazeres”, como brincamos). Trocas que deixaram técnica e sentimentos. Por conta desse contato com os intercambistas, Wesley Ubatata refere-se ao processo de mecanização que sofremos algumas vezes. Revelou que sempre foi motivado para participar do EntrePontos por conta da percepção do mundo e suas possibilidades. “Técnica é digamos fácil, posso conseguir no Vila das Artes, por exemplo. Mas isso que vivo agora só é possível assim, como está sendo. Esta viva experiência proporciona um aprendizado eficaz”.
Val toma isto pra dizer que não é interessante “corpos dóceis” na Feira e em nenhum processo. De evento em evento corremos o risco de nos tornar apenas “fazedores”, se o grupo não atentar para a necessidade de uma postura reflexiva. É preciso ver no discurso este entendimento. É, também, importante uma curiosidade direcionada: “No momento em que você entra mais consciente do que você quer, do que você é capaz: aí nós teremos o up”, pontua.

Naiara Lopes retomou a discussão que tivemos, eu e Ivan, ao falar da necessidade do reconhecimento dado por Ivan ao nosso trabalho. Estamos trabalhando, mas não estamos empregados. Isto é um consenso (acredito). Provocando riso no grupo, Lorena diz que se de fato fosse isto um trabalho (emprego) teria sido demitida logo no primeiro dia, por causa de um erro. Ela, que acompanha administrativamente o projeto, explica que “não é um trabalho, mas é um árduo aprendizado.”

Vitor Grilo parece ter entendido o que Lorena falou, pois sua fala partiu disso. Da importância de compreender os papeis no processo e não estabelecer uma relação de serviço conosco [EntrePontos]. Aposta na saúde destas relações se estas têm e entendem seu papel.
A pauta seguinte da reunião chega em Quixadá, local de grande reconhecimento dos participantes do EntrePontos locais. Lídia está estagiando, Cleyton e Kamilia realizam oficinas, e por aí vai. As notícias são as melhores! O coletivo Dom Quixarte está sendo legitimado pelo projeto, é o que diz Joanna.

Naiara foi a única estagiária da técnica na Feira. Ela acha importante trabalhar com outras pessoas, sabe da importância da diversidade para a criação. E acrescenta que sua área (técnica) não exige muita didática para ser aprendida, se faz mais necessária a prática mesmo. “Acho que o aprendizado de qualquer conteúdo é possível de uma forma viva, pedagógica. Porque não é o conteúdo em si, mas o espaço criado para a relação: educador-educando. Espaço simbólico. Um pai pode ensinar um filho a calçar um sapato de forma que este nunca esquecerá, porque ali houve afeto, e depois conceituar com uma técnica. Ou um pai pode mecanicamente dizer: entra neste buraco e depois neste”, exemplifica.

Ivan disse que o trabalho do EntrePontos da técnica tem sido bem recebido pelas equipes dos eventos que estamos passando. Aponta ainda, que facilmente Naiara estará no mercado, pois esta não é uma profissional agressiva e o cenário daqui carece desta habilidade específica. Ele sugere que ela experimente cuidar de outros instrumentos, além da bateria, para desenvolver suas habilidades.

Emocionada, Gabi Reis diz não conseguir dar uma forma de discurso para a intensidade vivida neste processo. Diz nunca ter gostado de escrever, mas se deu bem no atendimento. Afirmando ainda, a importância da vivência com os coletivos do Circuito Fora do Eixo e o entendimento desta dinâmica.
Diego Mota considerou uma experiência revolucionária. Um divisor de águas. Falou de dificuldades, mas revelou um momento único em todo o processo EntrePontos. “No 3° dia da Feira tivemos o máximo que uma transmissão suporta”. Ou seja: nunca antes tanta gente tinha visto online a programação.

TJ Cassimiro achou o máximo. Durante o evento, ele fotografou pela primeira vez e disse ter se encontrado na função. Brincando, atribuiu a qualidade das fotos à luz ambiente. Fotografou por iniciativa: “vi uma câmera de bobeira e pensei, meu irmão vou fazer uma foto”, conta o mais novo fotógrafo.

Também no audiovisual, Emilia Andrade falou ter gostado do entrosamento dela com a equipe. Achou bom também a forma do aprendizado: “Foi bacana estar matando esses dois coelhos: ao mesmo tempo você estava exercendo sua função, agregava conhecimento.” Remetendo-se aos paineis e oficinas que cobriu.

Foi a primeira vez que Lucas trabalhou na Feira da Música, apesar de já viver esta há 10 anos. Ele considerou que a realização da Feira nesse ano foi um risco por causa do corte no financiamento da Funarte. Diz: “quem não ousa dá um passo adiante não avança”.

Cacau teve com Joyce e Rosa uma relação bacana na produção do Encontro Internacional da Música, com Hélio e Wellinghton também, que estavam no suporte da infra. Cris Vale também gostou dessa relação, e ressaltou que as dificuldades não impediram o grupo de continuar com uma dinâmica propositiva.


Foto: EntrePontos, Intercâmbio dos Saberes e Parceiros

AGENDA DO ENTREPONTOS

O calendário tá bem recheado. Na reunião de sábado formalizamos mais duas atividades além do planejamento: Semana do Audiovisual Norte Nordeste (SEDA) e Festival das Juventudes de Quixadá. E discutimos mais dois que já estavam no “tronco do processo”. É consenso que devemos analisar nosso calendário com cuidado. Ainda estão programadas mais palestras. Esses acertos e as apresentações mais detalhadas dos processos serão pautas para nosso encontro.


FESTIVAL DA JUVENTUDE EM FORTALEZA


Lucas puxou a pauta sobre o Festival da Juventude, da importância do Arteentrecucas demarcar território lá. O que faremos é propor alguma atividade dentro da programação.

REGISTRO DE ATIVIDADES DURANTE O LABORATÓRIO

Por várias vezes na reunião apontamos para um mesmo erro: Não estamos registrando nossas impressões. Tem os questionários, mas o que é posto não alcança boa reflexão, é superficial.
Isso implica em um problema maior de não termos conteúdo para o catálogo no final do laboratório. Escrever sobre este processo é traduzir esta experiência para a um sistema (a escrita) que permite a replicação do que estamos vivendo.
Acreditamos que o EntrePontos , além de fomar produtores e técnicos, pretenda auxiliar no nosso desenvolvimento enquanto sujeitos que tenham percepção das problemáticas de suas comunidades e das soluções que estão emaranhadas por alí. A percepção expõe o que somos capazes de sentir e compreender.